Músicas de Raphael

domingo, 8 de julho de 2012

O Aperto de Mão de Bituca


Aquilo que eu menos esperava, e mais esperava, aconteceu.

Ontem, pela segunda e última vez, Milton Nascimento se apresentou no Festival de Jazz de Copenhague de 2012.

Niels no lado de fora da Politikens Hus.
Foi mais ou menos por ali que encontramos Bituca.

Como eu não tinha ido ao primeiro show por questões econômicas, cheguei cedo – talvez até cedo demais  – junto com meu amigo dinamarquês Niels, pra tentar garantir um lugar na primeira fila. Tão cedo que a Politikens Hus - o local da apresentação - ainda estava fechado. Como não queríamos ficar sentados na calçada, decidimos ir tomar um vinhozinho, em qualquer lugar próximo dali.

A decisão não poderia ter sido melhor.

Pois, no caminho de volta, quando conversávamos sobre as músicas de Bituca (apelido pelo qual Milton também é conhecido), e eu estava justamente cantarolando as primeiras linhas de “Sentinela” pra ver se Niels a reconhecia, ele me interrompeu e, em dinamarquês, disse: “Aquele cara ali na frente parece... será que é o Milton Nascimento?”

Meu mundo parou. A alguns metros de distância, numa rua chamada Vester Voldgade, estava o nosso homem de Três Pontas, Minas Gerais, caminhando com um grupo de amigos em direção à já mencionada Politikens Hus.

Ele é mais baixo do que eu esperava, e os seus quase 70 anos de idade pareciam pesar bastante sobre cada um de seus vagarosos passos. 

Depois de uma confusão momentânea, Niels e eu aceleramos um pouco, e quando já estávamos ultrapassando Bituca e seus amigos, notei que eles estavam num silêncio que quase não me atrevi quebrar – quase. Sem saber o que dizer, eu disse logo tudo:

- Milton Nascimento.

Ele parou e olhou para mim através de seus óculos escuros, com aquela mesma calma, aquela timidez, tranquilidade, simplicidade sobre a qual eu já tinha lido tanto, e já tinha visto tanto nos vídeos pelos youtubes da vida. Mas nunca assim, a um metro de mim.

Sem praticamente nenhuma palavra e nem um sorriso, talvez tímido ou talvez surpreso ao encontrar um brasileiro nesse lugar tão distante, ou quem sabé até cansado de não passar despercebido nem mesmo nas ruas de Copenhague, ele estendeu a sua mão, e apertou a minha. De novo sem saber o que dizer, o que saiu da minha boca foi o mais simples e honesto possível: “Um prazer. Sou seu fã.”

Depois disso, pronto. Ele também cumprimentou Niels, e continuou andando. Eu cumprimentei seus amigos, e depois também continuei andando, mas sempre meio que olhando pra trás, sem realmente crer no que acabara de acontecer.

Pode até parecer tietagem adolescêntica  –  e talvez seja mesmo –, mas pra mim foi imensamente importante encontrar com “o compositor de ‘Travessia’” em carne e osso, ver que ele não é ficção científica mas sim fato real, um cara tão humano quanto eu. 
Um nome que sempre conheci, desde minha infância, e do qual me tornei fã incondicional desde 2007 – cinco anos que não são nada perto dos 50 anos impecáveis de carreira que ele tem, mas são cinco anos que tiveram um impacto profundo e sem precedentes na minha vida musical. Foi por causa da música do Bituca que eu parei de escrever músicas pop-psicodélicas em inglês – algo que, segundo a revista dinamarquesa Gaffa, eu até sabia fazer  – e comecei a tomar coragem de escrever letras em português, buscando sempre encontrar aquilo que trouxe comigo do Brasil, ao invés de tentar imitar sentimentos estrangeiros. Encontrar com esse "personagem" tão importante da Música Popular Brasileira  –  o mais importante pra mim  –  foi, no mínimo, inspirador. 

O show em si foi indescritível, mas vou tentar relatar um pouco do que ouvi e do que vi. 

A voz de Milton Nascimento ainda é linda, divina. É como se a Música em si só existisse pra ele cantar e mais nada, e cada nota transbordada de sua garganta fosse um rio quebrantando uma represa, inundando tudo com seu som.

Foram décadas de composições geniais muito bem representadas nessa noite de sábado. “Cais”, “Ponta de Areia” e “Canção da América” foram de arrepiar. Ele não se mexe muito no palco, o que não faz diferença alguma, pois sua energia é suficiente. Mas quando se mexe, ele sabe como animar o público, fazendo todo mundo bater palma e cantar junto em certas partes de “A Lua Girou” e “Maria Maria”. Até em “Para Lennon em McCartney” teve gente que cantou junto quando ele pediu – algo que nem ele esperava de um público 90% dinamarquês.

E a banda também foi perfeita: talentosa e experiente. Composta por Wilson Lopes (guitarra/violão),  Kiko Continentino (piano/teclado), Lincol Cheib (bateria) e Enéias Xavier (baixo), esse é um grupo que sabe quando “jazzificar” bem seu estilo em canções como “Vera Cruz” e “Lília” – com improvisações que só podem ser resultado de muito estudo teórico e muita técnica –, mas que também sabe como “popificá-lo” em canções como “Nos Bailes da Vida” e “ Coração de Estudante”. E sempre acompanhando bem Bituca, prestando atenção no que ele canta, toca, e se moldando bem em volta de sua magnífica idiossincrasia musical, única e original, que hipnotiza a todos os ouvintes. 

Bituca fez aquilo que Caetano Veloso não soube fazer quando se apresentou no festival de jazz de Copenhague em 2010: tocou somente seus clássicos, "the greatest hits", de todas as suas fases, para todos os gostos. Afinal de contas, não poderia se esperar que os gringos conhecessem os seus trabalhos mais recentes, que, apesar de bons, não representam o Milton Nascimento no auge de sua carreira. 

Não tenho do que reclamar. Só rolou coisa boa. Quer dizer, se for pra reclamar, só mesmo d'ele näo ter tocado "Morro Velho", que pra mim é sua canção mais bonita de todas. Eis o setlist:

      1. Bola de Meia, Bola de Gude. 
      2. Canção do Sal
      3. Caçador de Mim
      4. From the Lonely Afternoons (e “Maria Três Filhos” no solo)
      5. Lília
      6. Encontros e Despedidas (não estou certo se ela foi tocada exatamente nessa ordem)
      7. Canção da América
      8. Cravo e Canela


                   (pausa)
  1.       Coração de Estudante
  2.       Vera Cruz
  3.       Nos Bailes da Vida
  4.       Cais (pra mim foi a melhor, com direito a Milton sentando no piano no fim da música e tocando aquela melodia da versão encontrada no disco“Clube da Esquina”)
  5.       Fé Cega, Faca Amolada
  6.       Ponta de Areia/Saídas e Bandeiras
  7.       Travessia
  8.       Para Lennon e McCartney
           (bis)

           9.        Maria Maria

           10.      A Lua Girou 



Enfim, se existisse uma voz que movesse montanhas, seria a voz de Milton Nascimento. Mas ele não precisa: a sua voz são as montanhas. As montanhas de Minas, do Brasil, e do mundo inteiro.

É um aperto de mão que nunca vou esquecer.    





domingo, 13 de fevereiro de 2011

O visto, e o futuro, (e o passado)

Depois de 1 ano e meio esperando que algo acontecesse, meu visto finalmente chegou. Quem vem acompanhando minha história sabe que não foi fácil: passei um estresse que quase me desgastou por completou, quase me fez desistir, quase venceu. Quase.

E não sem uma última luta.

Em dezembro de 2010, quando a chegada do meu visto era esperada (e eu já não aguentava mais), eu recebi uma carta da Imigração Sueca sim, mas com a resposta mais inimaginável possível até então: meu visto fora recusado. Como assim? Depois de tudo, da saída da dramática da Dinamarca, da certeza de que não teríamos problemas, do começo forçado de uma vida em um outro país?
 Lembro que tinha acabado de chegar do meu curso, já era noite, e Nadia tava sentada na cadeira onde sento agora, com uma cara mais irônica do que triste. Obviamente, ela já tinha lido o que estava escrito.

Mas, ao menos, eles não me deram uma data exata para sair do país, e depois de várias ligações nos dias que sucederam o choque, fomos informados de que poderíamos mandar uma nova aplicação, ou várias aplicações se assim desejássemos, pois não existe um limite exato. O sistema aqui realmente é mais aberto. Então, entregamos a nova, melhorada aplicação.

A razão pela qual eles inicialmente disseram não, foi que Nadia não tinha demonstrado ter dinheiro suficiente pra nos sustentar. Pois é, até o dia que receber o visto, eu não posso trabalhar, então é ela que tem que provar que tem o que se pede. Ela teria que ter mais ou menos 2 mil reais por mês sobrando (depois de pagar o aluguel e as contas), ou ter uns 50 mil reais em sua conta bancária, pra que eu possa ficar. É um pouco demais, pra uma estudante. Mas é a lei deles. Lei que não escrevem direito, e que nos confundiu.

Felizmente, Nadia tem uma tia que é bem de vida, e que nos assinou um documento dizendo que complementaria o que faltasse, mensalmente. Claro que, na verdade ela não vai complementar nada, mas está escrito, ela tem a grana, e é isso que eles queriam ver. Então, entregamos a nova aplicação com os documentos atualizados, e em poucas semanas, no início de janeiro, meu visto chegou. Fácil. Mais umas duas semanas, e eu já estava registrado e completamente legal no país. E assim acabou a saga imigratória.

A vantagem é que aqui tenho visto de trabalho. Acreditem, todos esses anos na Dinamarca e eu não pude trabalhar. Só tocando música, mas isso nunca foi o suficiente. Nunca fui independente.Nunca ganhei experiência nesse sentido. E já está na hora.
O visto também é melhor, porque é válido por 5 anos. Não vou ter que me estressar ano após ano como fazia na Dina, tendo que achar razões pra que me deixem renová-lo. Depois dos 5 anos, eu recebo um visto permanente. Então parece que meus problemas estão se resolvendo...

E novos estão surgindo.

Nada que me alarme. Mas agora começa a busca de emprego num país que sofreu com a crise econômica mundial, e num país cuja língua eu ainda não domino, por mais semelhanças que ela possua com o dinamarquês.

Conseguir me matricular nas aulas de sueco já foi uma novela, por causa de uma lei que eles têm que diz que se eu morei na Dinamarca e fiz curso de dinamarquês lá, eu já praticamente falo sueco, então teria que fazer o tal curso com outros dinamarqueses, num nível muito maior daquele que realmente posso. Mas, no fim tudo se resolveu, e eu vou conseguir estudar com outros imigrantes sim, porém não no nível 1, mas sim no 2 ou 3. Tenho que esperar numa fila porque é muito imigrante pra pouca vaga. Mês que vem é quando eu espero que comece. Ah, e o cara que me ajudou parece brasileiro, tem pai brasileiro, mas não fala português: é completamente sueco. Espero que meus futuros filhos não fiquem assim.

Já estive no arbetsförmedlingen, onde vão me ajudar a arranjar emprego, por causa da dificuldade com o idioma. Eles poderem até oferecer pagar 80% do meu salário pra que alguém me contrate - uma beleza. Vou ter um guia que vai me falar sobre as leis, como devo fazer, etc. No começo quero qualquer emprego mesmo, limpando o chão, lavando louça em restaurante, o que seja, ainda mais porque já disse que não falo sueco. Depois disso, vou adquirir experiência, e vou falar o idioma melhor, podendo assim partir pra outras cousas. O fato de que falo inglês, português, dinamarquês, e um pouco de espanhol também vão contar. Mas o que me importa agora é dinheiro, la plata, e poder dizer pro meu pai: chega de me ajudar, velho, de agora em diante eu me viro - mas obrigado pela ajuda, claro.
Aos 23 anos e meio de idade, é a primeira vez que vejo minha independência no horizonte. (E daí também não vou me sentir tão mal por saber que Nadia é quem recebe mais!)


Então, parece que meu futuro está se definindo.

Dá até um certo medo. Fico de lá pra cá desde os 15 anos de idade, não sei se vou querer parar em algum lugar. E, pra ser 100% sincero: a idéia de voltar ao Brasil, que no começo parecia ser a única saída, já não me era tão ruim. A não ser por Nadia, e pelos bons contatos musicais que tenho aqui, não teria problemas em morar na minha terra. Também pensei muito na Espanha, sei lá, pra me identificar com o país de onde parte do meu sangue veio. Madrid foi o lugar que mais me tocou até hoje, dos lugares que já visitei na Europa. Quem sabe um dia.

Por enquanto, aqui estou eu, em Malmö, na Suécia. Acho que as dúvidas sempre vão existir, ainda mais numa cabeça tão indecisa. O medo de que meus filhos sejam ainda mais distantes da minha família do que eu sou dos meus parentes (que moram no Amazonas e em São Paulo, distantes de Recife ou Salvador). O medo de que nada dê certo, e que no fim, depois dessa luta imensa pra ficar, eu tenha que ir.
Será que estou fazendo o que é certo? Será aqui o meu destino final? A Família Carvalho/Gimenes, espanhola, portuguesa, indígena, aparentemente com uma pitada de judeus, brasileira, se expandindo nas terras frias da Escandinávia?

Não sei.

Só sei que agora que meu nome está oficialmente registrado nesse endereço, eu recebi uma carta da Imigração Dinamarquesa de 4 meses atrás, novamente me informando da decisão tomada sobre o meu caso, e que eu tinha que sair do país o mais rápido o possível.
Eu ri. Mas foi um riso irônico, doído, e amargo. Que outros problemas imigratórios estão reservados para mim aqui na Suécia? Qual será, e quando será, a próxima provação? Será que eu vou aguentar? Qualquer que seja quantidade de amor que ainda existe dentro de mim por esses países, eu não sei. Mas tenho que tentar.

No fim de agosto do ano passado, ao receber a visita da polícia e ser avisado que tinha que deixar a Dinamarca, eu escrevi uma canção. Talvez venha a ser a primeira canção que eu grave por completo em mais de 2 anos (apesar de ter escrito tantas durante esse tempo).
Inspirada nos violeiros repentistas do nordeste, ela se chama A Serra das Russas, com uma letra simples e honesta, sem ligar pra o que é clichê e o que não é.  

Pra nunca mais esquecer.



"A Serra das Russas"

O sonho já está perto do fim, João:
Não sei onde acordarei.
Continuo assim fugindo,
Envelhecendo,
Com o coração na mão.

Ia conquistar o mundo,
Mas o mundo nem me quer mais.
Ao invés de cortar cana,
Sob a mangueira, 

Eu cantei.

A areia que desperta o meu penar está
No outro lado do mar.
Mas é bem antes do mar, meu irmão,
Que a saudade vai ficar.

Sem esperança de obter
Permissão para viver.
Sei que um dia eu vou poder, João,
Mas antes hei de sofrer.

Verdes são as serras que atravesso sem parar;
E o sol já se esconde atrás do cacto.
Longe a boiada se conforma em pastar;
Cachoeira leva embora meu cansaço
.

Raphael Carvalho Gimenes
Melodia feita algum dia no final de agosto de 2010
Letra finalizada dia 26 de setembro de 2010

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Sonhos lúcidos, paralisias, e o cérebro mudo.

Há algumas semanas atrás, talvez mais de um mês, eu tive um sonho lúcido. Foi o segundo da minha vida (até onde eu lembre).

Está no wikipedia em português:

"Sonho lúcido - é o termo que refere-se à percepção consciente que temos de um determinado estado ou condição enquanto sonhamos, resultando em uma experiência da qual temos uma recordação muito claranítida, normalmente aparentando termos tido controle e capacidade direta sobre nossas ações e, algumas vezes, o próprio desenrolar do conteúdo do sonho. A experiência completa do início ao fim é chamada de sonho lúcido. Stephen LaBerge, um popular autor e pesquisador do assunto, definiu o sonho lúcido como "sonhando enquanto sabemos que estamos sonhando.


Por ser besta, eu nunca escrevi tudo que lembrava enquanto ele ainda estava claro na minha mente, mas ainda lembro uns detalhes. Lembro que estava no antigo apartamento da minha família, no edifício Baía de Toulouse, na Rua Venezuela, em Recife. Lembro que estava escuro, e que as luzes do apartamento estavam apagadas. E lembro do meu pai conversando comigo no sonho. Acho que tinha mais alguém, mas não estou certo se era Nadia ou alguma outra pessoa.

Eu estava na varanda, como costumava fazer na vida real, olhando a paisagem distante, uma mistura de prédios, serras, casas, árvores, e mar. O céu, como sempre, não tinha quase estrela alguma. Tinha um avião passando, e foi aí que percebi que estava sonhando. Eu me virei para a pessoa (não sei se era meu pai, Nadia, algum amigo), e disse "eu tô sonhando, isso aqui não é de verdade. Quer ver?"  E com a minha mão direita, apontei para o avião, fiz um movimento, como se estivesse puxando algo, e o fiz cair na nossa frente. Empolgado com a situação, vi que vários aviões, jatos, começaram a passar por perto, e comecei a derrubar mais deles, com "a força do pensamento".

O mais interessante de tudo, é que eu lembro que um ou dois deles, ao cair, não explodiram ou sequer se danificaram muito. Quicaram, de prédio em prédio, até alcançarem o chão.

Tenho certeza de que aconteceu mais depois disso, mas não é algo que eu consiga lembrar mais. Lembro que voei, mas não posso afirmar se foi nesse mesmo sonho, ou se talvez eu tenha tido sim um terceiro sonho lúcido do qual praticamente me esqueci.

De qualquer maneira, não estou 100% certo de que eu realmente sabia que estava no sonho, ou se sonhei que sabia que estava num certo sonho.

No caso do meu primeiro sonho lúcido, que ocorreu na minha infância, eu tenho certeza de que sabia. Queria ser pintor ou desenhista, ou pelo menos saber descrever as coisas melhor, pois algumas imagens desse sonho ainda estão bem claras na minha mente.

Ele foi diferente, porque eu não somente sabia que estava sonhando, como eu queria acordar, fugir daquela irrealidade. Não porque era um pesadelo, mas eu simplesmente não me sentia confortável sabendo que estava preso na minha própria imaginação. Lembro que estava num prédio que nunca vi em lugar algum, e nele estava havendo uma grande festa, com personagens peculiares. Lembro que alguns deles sabiam que eu sabia, e por isso tentavam me pegar pra evitar que eu escapasse. Ainda assim, eu não tinha a sensação de um pesadelo. Talvez porque dessa vez tudo estivesse claro, digo, era dia, o sol estava brilhando.

Uma das poucas coisas que lembro desse sonho foi eu tentando construir um portal para voltar pra realidade, no teto. Obviamente influenciado pelos muitos desenhos que eu assistia na época, o portal lembrava esses portais de tempo e espaço de ficção científica, sendo que não muito grande. Eu entrei pelo portal, mas não acordei. Lembro do sentimento de frustração. Depois disso, o sonho virou um meio-pesadelo. Me tornei um mini-eu, cabendo na palma de uma mão. E lembro de estar navegando num riacho, e sendo perseguido por Gargamel e o seu gato. Sim, o feiticeiro inimigo dos Smurfs! Pouco tempo depois, acordei.

São os dois únicos sonhos lúcidos que lembro. Um quando eu devia ter menos de 10 anos, e outro aos 23. Nesse hiato de 13 anos (se não contar o possível porém incerto terceiro sonho), a única coisa relativamente constante nas minhas noites foi e é a paralisia do sono.

A paralisia do sonho é a coisa mais assustadora pela qual já passei, mas que hoje em dia veio a se tornar algum mais ou menos normal na minha vida. Só de lembrar da primeira vez em que a experienciei, fico com medo. É difícil dizer exatamente quantos anos eu tinha, pois a minha infância no Edf. Venezuela tem a sensação de ter durado 20 anos. Mas sei que já morávamos no terceiro andar, no 304. Eu acordara no meio da noite, e não conseguia me mexer. Tentei chamar a minha mãe, tentei gritar, mas, no máximo, conseguia gemer. Foi quando olhei para o canto do meu quarto, e vi os olhos vermelhos, brilhando no escuro, olhando pra mim. Os olhos que, para o meu desespero, se aproximavam da minha cama, lentamente.
Felizmente, consegui me mexer, e saí correndo para o quarto dos meus pais, pra me meter no meio deles e ficar lá até o dia amanhecer.

Depois dessa primeira experiência, inúmeras foram as vezes nas quais tive que passar pela mesma situação novamente. Não que ocorressem todos os dias, mas geralmente ocorriam (e ocorrem) a cada um, dois, três meses.

Na maioria das vezes, eu não tenho alucinações hipnagógicas - mas sim, a simples paralisia em si. No começo, eu sempre me desesperava, tentava gritar, levantar os braços, era um horror. Com o passar do tempo, aprendi a lidar com aquilo: tentava relaxar, respirar fundo, esperar, pois sabia que logo, logo o resto do meu corpo acordaria. Acho que a última vez que isso aconteceu não faz muito tempo, pois já estava em Malmö(!). Lembro que já tinha amanhecido, quando eu abri meus olhos, vi Nadia, tentei me virar para abraçá-la, mas não consegui me mexer. Respirei fundo, e em poucos segundos consegui.

Mesmo hoje em dia, sempre rola uma rápida impaciência no começo, mas logo desisto de tentar, e espero.

Outras duas alucinações que lembro claramente também não são tão antigas. A primeira foi simples, porém assustadora, na qual eu acordara no nosso apartamento, em Roskilde, e vira ao meu lado um velho (ou velha?), com uma corcunda feia, e um sorriso apavorante. Fiquei aterrorisado, mas não conseguia me mexer. Só torcia pra que nada acontecesse. O velho tinha os olhos cerrados, uma roupa cinzenta e encardida, e apesar de não me ver, parecia estar lá para me observar. Finalmente, quando consegui me mexer, me virei  e abracei Nadia tão forte que ela acordou.

De manhã, vi que o velho era na verdade a cadeira ao lado da cama.

A segunda alucinação também foi em Roskilde, e já foi bem mais complexa - talvez a mais complexa que já tive. Lembro que acordei, ou pensei acordar, no nosso minúsculo apartamento, no qual o quarto, a sala, e a cozinha são um só. E no canto, onde o violão ficava, eu vi um menininho branco, pequeno, de cabelos pretos e curtos, shorts escuros, e uma camisa branca (ou era um macacão?). Bem, eu não conseguia ver o seu rosto, mas ele parecia se mexer freneticamente. Depois disso, acordei, e logo estava na pia, lavando a louça. Apesar de ser dia, as cortinas estavam fechadas, e as luzes estavam acesas. De repente, eu ouvi algo. Era o menino de novo. Olhei pra trás e vi o seu vulto passar correndo. Eu o segui até o banheiro (que não era longe), e quando entrei o vi em pé sobre a privada, seu rosto ainda embaçado, suas ações sem fazer sentido algum. Fiquei paralisado com aquilo, aterrorisado, fechei a porta do banheiro, e voltei correndo para a sala/quarto/cozinha, onde, estranhamento, acordei de novo. Foi a única vez (que eu me lembre claramente) que sonhei dentro de um sonho. Ou será que tive a paralisia, acordei, voltei a dormir, e sonhei com a alucinação que acabara de ter. Ou será que sonhei que tive a paralisia? Seja o que for, também fico com medo só de lembrar.



Eu me vejo como uma pessoa ansiosa, e acho que isso seja um grande fator para a tal paralisia. Também li que outra possível causa é mudança de ambiente, que de alguns anos pra cá vem sendo algo normal na minha vida, mas não quando eu era um pirralho...
Também cheguei a me perguntar se sofro de narcolepsia - não porque ache que seja preguiçoso ou excessivamente sonolento, mas poucas são as vezes nas quais me sinto completamente descansado, sempre durmo e acordo em horas diferentes, e às vezes tenho problemas em me concentrar. Contudo, isso é muito subjetivo e muita gente é assim, fora que não sei nada sobre narcolepsia.


E o cérebro mudo, os sonhos sem som? É o mais abstrato, mais difícil de explicar.

Até certa idade (na adolescência), meus sonhos eram como filmes: eles tinham uma sensação mais real, na qual eu podia realmente ouvir um carro passando, em todas as suas freqüências, e pessoas falando, chorando, enfim, tudo que acontece em sonhos, da maneira mais real possível. Claro, você diz, é assim que todo mundo sonha.
Porém, de um tempo pra cá, meus sonhos perderam um pouco, ou talvez muito, disso. Eu ainda vejo e ouço tudo, mas as coisas parecem ir mais rápidas, confusas, e o mais estranho, sem som.

Quando converso nos meus sonhos, a pessoa que está falando comigo não está realmente falando: é como se eu pudesse ouvir meus pensamentos projetando o que ela fala. É como se, de certa forma, eu estivesse pensando meus sonhos, ao invés de sonhá-los. Não que isso faça com que todo sonho que eu tenha seja lúcido, ou que ele seja chato, sem graça; mas os sons parecem não ser tão fortes e reais como antes. O mais paradoxo nisso, é que nesses sonhos eu já ouvi melodias. Lembro de estar sentado na grande quadra do Colégio Americano Batista com meus amigos (que aindam eram crianças nesse sonho), junto com um um montão de crianças que estavam correndo, brincando, e de começar a cantar uma melodia que eu julgava ser de Milton Nascimento. Acordei, toquei a melodia no violão, e a tenho até hoje. (O legal é que não consegui achá-la em disco algum do Milton, então ela é provavelmente minha, ou melhor, uma mistura daquilo que ouço e que meu próprio sonho mudo criou.)

É difícil explicar como posso ouvir melodias nesses sonhos pensados, mas acontece. Fico com a impressão/teoria de que não durma tão profundamente como costumava dormir, então apesar de sonhar, acreditar, e experienciar coisas que parecem verdadeiras, ao mesmo elas não são. É um sonho sem sons!

Pelo menos eu nunca saí do meu corpo. Uma vez sonhei que tinha morrido, e saído do meu corpo. Flutuei pelo "apartamento" onde Tia Marly morava na minha infância, no fundo da Igreja Batista Emanuel, e pronto. Mas não foi nada do tipo "eu realmente saí do meu corpo, olhei pra mim mesmo" e tal. Foi dentro do sonho. Por sinal, esse foi o único sonho que lembro no qual continuei sonhando depois de ter morrido. Todas as outras vezes, eu acordei, como na vez que fui espancado por imigrantes na Dinamarca, tentei abrir os olhos, ficar vivo, mas morri.. e acordei.

Bem, eu poderia citar milhares de curiosidades nos meus sonhos. Todas bem comuns, como eu perdendo os dentes (sempre!), ou da onda gigantesca que surge na praia, da qual sempre tento fugir, às vezes criando um sonho bem longo, no qual a cidade inteira se alaga...



O fato é que, muitas vezes, eu tenho tantos sonhos, que acordo cansado, como se não tivesse realmente dormido.
Um dos meus maiores planos para o nosso próximo apartamento é comprar uma cama maravilhosa, com travesseiros maravilhosos, para eu dormir perfeitamente.


Sei que o Pr. Josias é muito interessado em sonhos. Tô pensando em seguir o exemplo dele, e guardar um diário no qual eu escreva os meus.





Obs. resolvi escrever esse post depois de reassistir A Origem

sábado, 16 de outubro de 2010

Letras

Já escrevi uma vez sobre minha dificuldade de pensar em português.

Depois de morar nos Estados Unidos e na Dinamarca, e atualmente estar morando na Suécia, por um bom tempo eu só pensava na minha língua materna quando estava assistindo futebol, vendo algum filme brasileiro, ou ouvindo música brasileira. Agora melhorei um pouco. E de qualquer jeito, conhecendo a minha pessoa, alguns diriam que eu não deveria ter problemas, pois faço essas coisas mais do que qualquer outra. 

Mas enfim, não é bem sobre isso que quero escrever.


Por acaso, há alguns minutos atrás, estava checando meu facebook, quando vi o update de um amigo que terminou me levando ao vídeo de uma banda brasileira (recifense?) com um tal de "Johnny Hooker". Bem, o primeiro pensamento mesmo foi "pô, o cara num arranja nem seu próprio nome artístico" (vide John Lee Hooker); o segundo, ao assistir o vídeo, foi "...e já existe um Mick Jagger no mundo"; e o terceiro, depois de ter terminado de assisti-lo e cruelmente julga-lo, foi algo que passei mais tempo pensando: escrever e cantar em inglês.
Não posso dizer com 100% de certeza, mas me parece que as músicas foram escritas pela banda dele, e elas são todas na língua do Tio Sam.

Há um bom tempo atrás, ao ler o encarte do disco do Caetano Veloso de 1971 - o primeiro que ele gravou em Londres durante seu exílio -, me deparei com essa citação: ""Um santo francês certa vez disse que é tão perigoso para um escritor experimentar escrever numa nova língua como para um religioso experimentar uma nova religião: ele pode perder sua alma." Logo me lembrei que, ao longo de uma época, eu mesmo escrevia em inglês.

Audácia que começara alguns meses depois d'eu me mudar pra Flórida em 2003, quando deixei a tristeza de lado, me empolguei com Shakespeare e Walt Whitman, e comecei a tentar escrever meus próprios versos naquele novo idioma.
Lembro que emprestava as palavras mais complicadas, absurdas, (e menos usadas) da língua inglesa, e tentava escrever sobre os assuntos mais banais possíveis. Afinal, eu só tinha 16 anos.

Ainda assim, levei o que tinha escrito pra uma das minhas professoras na Marjory Stoneman Douglas High School, e me surpreendi ao ouvir ela dizer que os versos não faziam sentido algum. Abalado, esperei pela próxima aula, e os mostrei a um outro professor, nativo de Trinidade e Tobago, que por sua vez achou tudo aquilo genial. Ele me elogiou e me incentivou muito, o que fez com que eu continuasse trazendo mais e mais versos a cada dia, inicialmente pra que ele os corrigisse, mas depois, ao ouvi-lo dizer que poesia é subjetiva e corrigi-la pode ser um erro, passei a trazê-los só para compartilha-los com alguém mesmo.

Nunca deixara de escrever em português, mas desde então a frequência com a qual eu o fazia era menor.  Blogs, livejournals, e novos amigos, todos eram em inglês.

O tempo passou, e eu esqueci um pouco o escrever para ler, e comecei a escrever para cantar.

Ao descobrir Beatles, fiquei tão fascinado com suas canções, que comecei a tentar escrever as minhas. Não que não tivesse tentado antes, pois lembro bem das canções de black metal que escrevia e gravava em meados de 2002, e até antes disso já havia me aventurado no mundo de cantor/compositor (minha família talvez se lembre de mim pequenininho, pegando o violão do meu pai, batendo nas cordas e cantando "badubadubarrom", que na minha cabeça era um grande jacaré que se aventurava nos rios de não-sei-onde). Mas no início de 2006, pela primeira vez na Dinamarca, comecei a me levar mais a sério. Escrevia canções mais estruturadas, e começava a grava-las como podia. Até depois de voltar temporariamente ao Brasil na metade daquele ano, continuava escrevendo, tocando, gravando, e sonhando.


Eram todas psicodélicas, lo-fi, e em inglês. Não lidavam com temas específicos, às vezes não faziam sentido algum (propositalmente), mas eram inspiradas em coisas que aconteciam no meu dia a dia. Por exemplo, a minha canção Honeymoon:


"Strumming my guitar like you strum the pink sun 
is not enough to reclaim my loved one"  

Que significa "dedilhar meu violão como você dedilha o sol cor-de-rosa não é o suficiente para recuperar a minha amada."

E a canção Apple Man and the Hat on his Head:


"Apple man and his hat
Stalking me in my bed
Grit his teeth made of juice
Lock me up in my snooze"

 
Que significa "Homem-maçã e seu chapéu, me olhando na minha cama, range seus dentes feitos de sulco, e me tranca no meu cochilo" (inspirada na pintura de Magritte).

Hoje, quando traduzo isso que escrevi há 2-4 anos, me pergunto porque não o fiz em português. De primeira assim, a tradução não rima bem como rima na versão original, mas não é nada que eu não pudesse ajustar. Além do mais, bandas como os Mutantes provam que esse gênero musical funciona muito bem na nossa língua.
Contudo, não só a idade, como também o fato de que eu praticamente não morava no Brasil, me faziam querê-las numa língua que gringos entendessem.

Esse é um caso comum entre todos os não-americanos, não-ingleses, não-australianos, não-jamaicanos, etc, etc, etc.
 
Shakira talvez seja o maior e mais recente exemplo de alguém que um dia cantou em sua língua nativa (castelhano), mas ao perceber as possibilidades econômicas existentes fora da América Latina, aprendeu e passou a cantar quase somente em inglês. De certo modo, digamos que seja como vender a alma ao diabo.
E nem precisamos ir tão longe pra achar mais exemplos: No Brasil, temos o próprio já citado Caetano Veloso, que gravou aqueles dois discos em inglês no início da década de 70; Gilberto Gil, que fez o mesmo no seu exílio; o grande Milton Nascimento, que também gravou discos no exterior com algumas músicas em inglês; e, claro, o mestre Tom Jobim, que teve várias letras de Vinícius de Moraes re-escritas para atingir o público norte-americano.

E não é só um fenômeno latino. Na Dinamarca, a maioria das bandas/músicos de pop, rock, etc, escrevem e cantam em inglês. Exemplos são Tim Christensen, Kashmir, Mew, The Raveonettes. E não podemos esquecer os meus novos vizinhos suecos, Abba.

Eu diria que existem ao menos três razões para que isso aconteça:

  1.  O interesse econômico. Há muitos anos o inglês se tornou a língua mais internacional do mundo, aquela que todos que querem se comunicar com estrangeiros aprendem. Então se você quer que mais gente no mundo ouça sua música e compre seu disco, escreva em inglês e supostamente já terá dado um passo mais perto do sucesso.É o caso de Shakira.
  2. Parecido com a primeira razão, mas com o interesse econômico fora do foco principal: a integração social. Você passou a morar em outro país, e por isso quer comunicar sua arte numa língua que o povo de lá entenda, não só pra poder vender, mas também pra ser simplesmente ouvido (no sentido mais literal do verbo). Seria talvez o caso de Caetano, Gil, e de Manduka, que escreveu em castelhano durantes seus anos nas terras vizinhas do Brasil e no México.
  3. Tempos modernos: parte dos jovens de hoje, cercados pelo idioma, canta em inglês porque é isso que ouviu na adolescência, e mesmo que eles não domem a língua por completo, conseguem se virar.  É provavelmente o caso de várias bandas dinamarquesas, brasileiras, e em certo grau, era o meu caso.  

E vejam bem, eu não estou aqui tentando explicar o fenômeno do inglês no mundo, ainda mais porque não tenho conhecimento suficiente para fazê-lo, e não tenho vontade alguma. Sei bem que ele não se limita à música: muito pelo contrário. Mas não é isso que estou discutindo. E minhas idéias são na maioria baseadas no que vivi nesses 23 anos.

O que é estranho pra mim é que tem muita gente que pensa que inglês é a única língua musical do mundo, e que algo escrito de outra forma não é tão legal.
 
Tudo bem se você é fã de rock e acha que inglês é a língua mais apropriada. Eu te diria que você é um mamão, mas tudo bem. Sim ou não, quantas vezes já não ouvi dinamarquês dizendo que sua língua é feia, e que qualquer música cantada nela é a coisa mais brega do mundo. Um erro triste, confundido com a simples verdade de que a Dinamarca poucas vezes produziu música boa (rs). E isso acontece no Brasil também, especialmente entre os mais jovens (dos quais já fui parte). São mentes fechadas para coisas novas.

E não é somente questão de gosto musical. Eu já mostrei música brasileira (sem ser rock) pra estrangeiros (que não são roqueiros) que disseram "gostei, mas não entendi nada", e logo se desinteressaram. Pelo menos na Dina, onde a maioria entende inglês o suficiente pra saber sobre o que se canta, existe esse conceito de "não entendo, logo não gosto", com relativamente poucas exceções.

Eu, Raphael, cresci num país onde inglês era presente, sendo que só na TV e no rádio. Ou seja, sem entender nada, aprendi a gostar do que ouvia pela melodia. Cantarolava o que fosse, não me importando com o que era cantado.     

Não que eu desdenhe letras de forma alguma, mas o que mais me interessa numa música não é o que cantam, mas como cantam. Se eu gostar de uma música e desgostar de sua letra, ainda assim vou ouvi-la, mas não o contrário. Por isso me identifico muito com cantores como Milton Nascimento e Dori Caymmi (o filho), que muitas vezes abandonaram letras em nome da melodia pura. É algo que venho fazendo em algumas composições mais recentes. E, felizmente, não é algo somente meu e do meu povo: a banda islandesa Sigur Rós, antes de mergulhar num mundo mais pop, compôs músicas e chegou a gravar um disco inteiro sem letras ou títulos, usando as vozes como instrumentos, algo que quebrou a barreira idiomática e os levou a grande sucesso internacional. Hoje em dia, eles já começaram a gravar músicas até em inglês, pois acho que ficaram famosos demais, mas mesmo assim, valeu o esforço. 



Cantar em inglês não é errado, ouvir música em inglês menos errado ainda. Eu não acho que estava errado ao fazê-los, e cheguei até ser contactado por um promotor britânico que queria usar músicas minhas numa coletânea inglesa (que cobrava caro demais), e também recebi uma boa crítica da revista dinamarquesa Gaffa, que me comparou à Syd Barrett e clamou que eu era a melhor música pop psicodélica já feita no país. Então eu posso dizer que o meu objetivo estava sendo alcançado.

Amostração à parte, eu não posso negar que uma razão fundamental por trás de todo o meu inglesacionismo, era o fato de que cantar em português me despia. Cantar na minha língua me colocava cara-a-cara com todos aqueles que conheci e conheço desde meus primeiros anos de vida, aqueles que me conhecem pra valer. Era como convida-los para entrar na minha mente, naquilo que sou, apesar de todas as mudanças naturais da vida. Enfim, me envergonhava. E acho que acontece o mesmo com muitos outros músicos e compositores por aí.

Outra razão é o fato de que mudei, como sempre estou mudando, e nos últimos 3 anos passei a ouvir mais música instrumental (jazz e seus derivados), mais música de outros países (de idiomas não-ingleses), e especialmente mais música brasileira que tudo. Consequentemente, os meus conceitos mudaram. Agora, prefiro cantar sem letras ou cantar em português, mas não excluo a possibilidade de voltar a escrever e cantar em inglês no futuro, ou até em outra língua. Tudo depende de onde meus ouvidos estarão.

Concordo com o francês em parte: pois se você morar num país tempo suficiente para incorporar sua língua, entendê-la de forma que não a entenderia através de estudos na sua terra natal, e chegar a pensar através dela, acho que sua alma não se perde. Pelo contrário, ela cresce.
Todavia, caso essa seja a escolha, acho importante não deixar de escrever e compor na sua própria língua de vez em quando. Mas essa é a minha opinião.





Quarta passada toquei uma música nova para a minha professora de canto. É uma canção chamada Serra das Russas, sobre o que senti quando fui informado que tinha duas semanas pra deixar a Dinamarca. É uma letra triste e saudosa, mas não que ela fosse entender. E nem precisava, pois ela disse que a melodia já era tão bonita que, apesar de não compreender as palavras, entendia profundamente o que eu queria dizer antes mesmo d'eu explicar.

E é isso que Música é: compreensão profunda e abstrata do que se sente e não se sente, através de notas, não palavras.

Mas convenhamos: palavras ajudam. Especialmente em casos como este:





Minutos depois, minha professora me perguntou se eu não considerara escrever a letra em inglês...

Haha.

domingo, 26 de setembro de 2010

O Exílio de Raphael(?)

Escrevo das terras verdes da Suécia, o país cuja natureza é a mais bonita que vi nesses cinco anos de Europa. As cidades em si não são muito diferentes das dinamarquesas, mas as montanhas, meus caros, as montanhas verdes e geladas, quietas e estranhas, são o que faz a diferença.

É o lugar que mais visitei desde que vim para a Dinamarca pela primeira vez, em 2005. A família de Gry, que me hospedava naquela época, sempre viajava de carro, e me levava a muitos lugares, principalmente pela Suécia.

Como poderia esquecer meus primeiros dias europeus? Cheguei na Dinamarca, e no dia seguinte já estava num carro no meio da vizinhança sueca. Os pinheiros, alces, ursos, lagos e uivos, me fascinaram.

Os dinamarqueses em geral têm uma certa rixa com seus vizinhos, assim como brasileiros e argentinos, que também se estende ao futebol. Contudo, eu nunca neguei minha paixão por esse país.
E no decorrer daqueles primeiros 12 meses na Europa, eu o revisitei várias vezes, conhecendo as mais variadas cidadezinhas, aprendendo a esquiar e passando o Natal ao lado de um lago congelado pelo frio, com direito a caminhadas pelas selvas nórdicas com Jonas, e às vezes até sozinho. O problema de ir sozinho foi, ao ouvir latidos que pareciam vir de lobos, fiquei apavorado, sai correndo, escorreguei no gelo e meti o joelho numa rocha imensa. Mal pude andar por um ou dois dias. Mas até disso lembro com carinho.

Cheguei a ir a cidade de Gotemburgo duas vezes, na última delas pra ver a banda Sigur Rós pela primeira vez, que felizmente naquela época ainda não gravava esses discos alla indie-pop-rock de hoje em dia, e graças a um amigo meu fui pro camarim e conversei com a banda inteira. Foi legal.




 Já alguns anos depois, peguei o avião com Katy e fomos à capital, Estocolmo: outra maravilha. Apesar de Katy ter ficado de saco cheio de mim em certo ponto, chegando até a quase brigar por causa do fato de que eu tinha achado o filme "Australia" um fracasso, nós aproveitamos bem a cidade, passeamos muito, vimos altas coisas, e dormimos de graça no apartamento de um casal que nem conhecíamos, graças ao método de couchsurfing . No final, foram dias bons para dizer tchau a minha amiga americana que estava voltando para o Texas poucos dias depois da nossa viagem.

Por alguma razão, ou talvez por razão nenhuma, eu nunca tinha visitado Malmö.

Malmö é a terceira maior cidade da Suécia, depois das já mencionadas Gotemburgo e Estocolmo. Fica no sul, na região de Skåne, e, de trem, fica a 35-40 minutos de Copenhague, a mesma distância de Roskilde (onde eu morava) pra lá.
Não precisava de carona, e podia voltar no mesmo dia se quisesse. Vários amigos meus na época de intercambista em 2005-2006 fizeram isso, mas eu não.


Muitos dinamarqueses brincam dizendo que Malmö é tipo uma segunda parte de Copenhague, um bairro grande. Afinal, muitos deles moram lá, onde o custo de vida é relativamente mais barato, as leis imigratórias menos rígidas, e o salário menor - algo que os levam a continuar estudando/trabalhando em Copenhague.
E também a cidade não é lá muito diferente: bem plana, com poucos prédios (nenhum deles com mais de três ou quatro andares), antiga, bem cuidada, e com a exceção de poucos detalhes (como os ônibus verdes), e, claro, a língua oficial, é a mesma coisa. Entender sueco para dinamarqueses é mais ou menos como brasileiros querendo entender espanhol, e vice-versa. Então é meio que tranqüilo.

Agora, do nada, estou morando aqui....  

Tudo começou quando...

Quando voltei pra Dina, e fui morar com Nadia em meados de 2007. Eu não sei bem o que pensávamos, mas acho que já havia uma certa noção de que não daria pra enrolar as autoridades locais para sempre.

Eu passei os primeiros seis meses sem um visto oficial, pois eles ainda estavam analisando meu processo, que, digamos, era diferente, pois eu queria entrar numa escola onde tocaria música o dia inteiro, com diversas bandas, criando um repertório, para depois sair por aí tocando, e no fim do mês recebendo um salário legal. Era uma escola que, a não ser pelo aquecimento vocal diário no início das manhãs e das tentativas esporádicas (e fracassadas) de se criar aulas de teoria e prática musical, não tinha horários fixos (a não ser chegada e saída), e onde várias vezes você fica morgando sem saber o que fazer. Não que eu não tenha aprendido muito lá, pois os professores são ótimos (foi um deles me converteu ao jazz), e você evolui na sua musicalidade, aprende a lidar com músicos e bandas diferentes, etc, tudo bem prático. Mas, de qualquer maneira, é uma escola pra jovens dinamarqueses que geralmente não decidiram que rumo tomar na vida, que educação escolher.
Era a única escola na qual eu poderia começar em qualquer dia do ano - algo que se encaixava bem às minhas necessidades -, e na qual eu seria pago, pois já que meu visto era de estudante, eu não podia trabalhar em lugar algum, então pra mim isso foi um bônus.

O visto finalmente chegou, comecei a estudar lá em dezembro de 2007, fiz novas amizades, aprendi muito, mas como não passei no teste pra entrar no MGK (musikalsk grundkursus), fiquei meio perdido. MGK é o curso que te prepara pra entrar no Conservatório de Música, que aqui é o nível mais alto que você pode atingir como músico. É bem concorrido, com bons professores, e por isso é bem difícil de entrar.

Foi a primeira dificuldade: como renovar o meu visto até o ano que vem, quando poderei tentar entrar de novo?

Graças aos meus professores e à coordenadora, que escreveram uma carta me elogiando e dizendo como eu era importante pra escola, consegui renovar meu visto por mais um ano na mesma escola.

No início de 2009, passei no teste para entrar no MGK, e parecia ter meu rumo definido. Disse adeus à Greve Produktionsskole, e mandei uma nova aplicação para um visto de estudante no MGK. Enquanto esperava por ele chegar, as aulas começaram e eu comecei a ir, e pra minha felicidade era justamente aquilo que eu queria fazer.

A bomba veio então. Quatro meses depois de já ter começado o MGK, recebi uma carta da Imigração dizendo que essa escola, para qual eu ia duas vezes por semana, não era suficiente para eu ganhar um novo visto, e eu tinha 30 dias para deixar a Dinamarca.

Choque.

Mas a carta também disse que eu tinha o direito de reclamar, e com a ajuda da diretora da nova escola (que ficou furiosa com a notícia) e de Nadia, fizemos uma reclamação com argumentos bastante inteligentes, que me deram esperança de conseguir o safado do visto. E enquanto eles reanalisavam meu caso, eu tinha o direito de ficar.

Continuei indo para o curso, me sentindo vitorioso. Terminei o primeiro ano letivo com boas notas, novos amigos, uma banda onde eu tocava e cantava música latina e ganhava um certo dinheiro, enfim, com a vida encaminhada.

Daí, poucas semanas antes de visitar o Brasil, recebi uma nova carta, dizendo que meus argumentos não eram válidos e que eu tinha que deixar o país em 30 dias. Brincadeira, bicho. Com pouco tempo e grande estresse, Nadia e eu preparamos novos documentos, e mandamos uma nova aplicação, dessa vez para união de família, já que ela e eu moramos há um bom tempo juntos e temos documentação para provar.

Temos tudo que eles requeririam para a aprovação. Mas, claro, a Dinamarca tem uma lei que diz que se você não é cidadão dinamarquês e quer se casar na Dinamarca (com um dinamarquês), os dois têm que ter 24 anos, ou 23,5. Na verdade, casar até pode, mas se vocês não tiverem 23,5 anos de idade, o casamento não lhe garante o visto.


Então, mandamos essa nova aplicação mais como uma desculpa que nos ganhasse tempo, pois já tínhamos Malmö na cabeça. Sim, Malmö, ligada a Copenhague pela ponte do amor, para onde muitos dinamarqueses apaixonados se mudam com seus amados(as), pois na Suécia não existe a tal Lei dos 24 anos.





A mudança

Desde que recebemos o primeiro não, em Dezembro de 2009, Nadia e eu começamos a procurar por apartamentos na cidade sueca. Entretanto, pelo fato de crermos que nossos argumentos eram fortes e que no fim eu conseguiria ficar por pelo menos mais um ano, não demos tanta ênfase à procura quanto talvez devêssemos, e todas as pessoas com as quais conversei tiveram a impressão de tudo se resolveria sem problemas.

Mas achar apartamento em Malmö é muito difícil.

Tão difícil que, uma conhecida minha brasileira e seu marido dinamarquês tiveram que comprar um apartamento aqui pois não conseguiram alugar nada. Mas Nadia e eu não temos tanto dinheiro assim. Então, continuamos a procurar, e quase conseguimos um.

Um rapaz para o qual tínhamos escrito ligou pra Nadia e perguntou se poderíamos ir olhar o apartamento na quarta ou domingo, de preferência no domingo, e se a gente gostasse, já poderia se mudar. Então ficou combinado de irmos lá no fim da semana.
Estávamos prontos, literalmente saindo da porta, quando Nadia ligou pra ele só pra confirmar o horário, e ele disse: "Ah, você não recebeu minha mensagem? Eu já entreguei o apartamento pra outra pessoa na quarta-feira." Ah, o ódio. Por que então ele não pediu pra gente ir na quarta? O fato é que perdemos a chance. E fora ela, não chegamos nem perto de conseguir algum outro lugar. Se você achar um anúncio de apartamento 1 hora depois dele ter sido escrito, pode esquecer. Uma vez ligamos pra uma mulher que disse que 50 pessoas já tinham ligado pra ela, poucas horas depois d'ela ter colocado o anúncio.

Quando o segundo não chegou em meados de junho de 2010, apesar de não crermos que eu receberia um sim, sabíamos que estaríamos comprando tempo, e que como era um novo caso, uma nova aplicação, eu poderia reclamar novamente e ganhar ainda mais tempo. Assim, fui pro Brasil com Nadia e tive umas férias incríveis.

E voltei pra Dinamarca sem problemas.


Até que, no início desse mês de Setembro, recebi o terceiro não. E dessa vez dois policiais bateram na minha porta e fizeram questão de me entregar a carta pessoalmente. Eles foram simpáticos, mas a notícia que traziam era a pior de todas: minha aplicação fora negada, e dessa vez, mesmo que eu reclamasse, teria que esperar pela nova resposta na minha terra natal, o Brasil. Haja dinheiro pra ir e voltar. Não só isso: Dessa vez eu tinha só 15 míseros dias para deixar o país! E não só isso: Nadia tinha comprado passagens com a irmã, tia, e mãe para Kraków, Polônia, para celebrar os 50 anos da mãe. Ou seja, dos 15 dias que eu tinha sobrando, ela passaria 4 longe de mim. Foi um terror. Pensei que dessa vez não tinha escapatória. O jeito era voltar pro Brasil, e que Nadia me seguisse depois. O que ela faria lá eu não sei, mas enfim. Foi um chororô, uma tristeza profunda, e ao mesmo tempo um alívio de saber que iria pra um lugar onde não precisaria renovar o visto a cada ano. Mas ter que recomeçar tudo de novo seria tão difícil, e diferente...

Mas eu tinha subestimado meus amigos daneses.

E quando eles se deram conta da gravidade do problema, começaram a mover peças, contactar seus amigos, parentes, enquanto Nadia e eu procurávamos por soluções.

Chegamos a achar um quarto em Malmö por conta própria, mas não deu certo.

Felizmente Søren, o baterista da minha banda Latin Fanatics, contactou sua prima que mora em Malmö com o namorado (ambos dinamarqueses), e eles, que têm um quarto vazio no apartamento que moram até fevereiro de 2011, decidiram nos ajudar.

Resumindo: aqui estou eu, escrevendo-vos das terras fartas da Suécia, num quarto maior que o apartamento que tínhamos em Roskilde, esperando pelo visto que deve chegar em alguns meses sem problemas, pois graças ao fato de que moramos há mais de 18 meses juntos, nem casar precisamos (casamento vai ter que esperar alguns anos!). E assim que tivermos mais documentos, vamos começar uma nova e árdua procura por um apartamento maior, só nosso, onde possamos nos estabelecer e viver, felizes, a partir de 2011.



Tudo vai se encaixando, e espero que dessa vez dê tudo certo. Com o visto que receberei, só vou precisar me preocupar com renovação daqui a 5 anos, quando poderei obter o visto permanente.

Viva a Suécia, viva Nadia, viva Søren, minha família, e meus amigos!


Ah, e eu cortei o cabelo! (Nadia nem viu ainda, pois tá em Roskilde cuidando de umas coisas). Surprise!

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Cachoeira



(música linda)

Depois de mais ou menos 35 dias, voltei.

Mudado, esquecido, desacostumado e saudoso, eu voltei.

Não houve tempo suficiente para ver muitos, ou para ver aqueles que vi o tanto quanto gostaria de ter visto. Mas é sempre assim. Nadia finalmente conheceu os personagens das histórias que venho contando há mais de quatro anos. E eu, por um certo tempo, voltei a fazer parte delas.

Contemplar as cidades que contemplei, as paisagens, a música e as vidas que presenciei, tudo isso encheu o meu coração ainda mais com o que Ivan chamaria de ufanismo, mas que pra mim é simples afeição e emoção de quem viu e sabe que aqui fora não há nada igual. Pois por mais que eu analise, elabore e complique as explicações dos porquês, o fato é que por trás disso tudo existe um amor e uma ligação imensos dentro de mim, os restos de uma saudade infinita.


Obviamente, gosto é gosto, e tem gente que não importa quantos anos morasse no outro lado do mundo, não olharia o Brasil do jeito que eu olho. Afinal, como já devo ter escrito em algum post anterior, essa história de Brasil começou em Salvador, não aqui. Aqui eu só fiz cultivar.

Lembro que, dois dias antes de ir ao Brasil, fui a um show de Caetano Veloso lá em Copenhague. Sentei na segunda fileira, junto com meu amigo dinamarquês Niels, e várias senhoras brasileiras que não conhecia. Começamos a conversar e tal, e quando ouviram que eu era de Recife, chamaram uma senhora recifense que se sentava num outro lugar. Ao ouvir que eu ia visitar Recife, ela disse: "Boa sorte." O sarcasmo estampado em sua cara. E pelo que entendi, ela já mora por aqui há anos.

Não vou fugir da realidade, nem vou deixar de entender porque tanta gente quer sair do país, e porque tanta gente valoriza tanto o que é daqui de fora, pois eu fui e sou o mesmo que eles são. É fácil olhar através do vidro e sorrir, romantizando o que não se vive no dia-a-dia. Sei que o Brasil não se resume à música, à viagens de carros e pontos turísticos. Tem que andar pra poder conhecer. E em 2007 eu já tentei andar, voltar, já tentei ficar, e vi que não dá. Claro que, dentre as minhas razões encontra-se uma morena branca, dinamarquesa deusa dos meus sonhos, mas isso não esconde o fato de que é difícil gostar de nescau depois de provar toddy de verdade.

A verdade é que se eu pudesse viver do jeito que vivo em Roskilde no Brasil, com a liberdade que tenho (em todos os aspectos possíveis), já estaria lá (com Nadia, que inclusive tava aprendendo português muito rápido). Porque pra mim o Brasil é o que tem de melhor em cultura, paisagem, música e gente. 

Enfim, deu vontade de ficar, de prolongar, de voltar; e apesar de ao chegar em casa eu ter lembrado as outras razões pelas quais escolhi morar tão longe do meu país, ainda estou meio desordenado, mirando as lembranças que da parede adivinham meus pensamentos, fazendo perguntas sem interrogações. Mas não há nada novo aí e não há nada novo aqui. Vou me reacostumando de pouco em pouco, reencontrando meus amigos daqui, e curtindo a vida do jeito que curtia antes.

Feliz e satisfeito, porém cauteloso.

Sei que em breve vou subir ainda mais, e ficar ainda mais longe do meu país. Pelo menos Nadia e eu concordamos que daqui a um tempo queremos passar uns dois anos no Brasil. Vamos ver.

Assim segue a vida.

O sol da serra se pondo atrás de um cacto, as cachoeiras caindo em Bonito, a ilha dos Frades se aproximando, as ondas de Guarajuba nos derrubando, o Santos de Ganso jogando sob a chuva, e os meus pais me recebendo.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Um pouco antes de ir

Eu sempre penso em escrever aqui mas sempre termino tocando violão. Agora que finalmente resolvi dizer algo, não me sinto muito inspirado. Mas enfim.

Vou ao Brasil semana que vem, dia 7 de julho. Chego em Salvador e fico lá dez dias, depois vou pra Recife, e depois de duas semanas volto a Salvador, onde passarei mais uns nove dias e depois volto pra Dinamarca. É uma sensação estranha; uma ansiedade apreensiva. Agora fazem mais de três anos desde a última vez que estive lá, e quero ver como reagirei. A noção de Brasil se tornou tão romântica pra mim que às vezes me pergunto se sou realmente brasileiro patriota, ou se simplesmente gosto de ser diferente aqui na Dina. Acho que um pouco dos dois. Mas pelo menos sei que a hora é certa, pois com tanto interesse em tudo que é de lá, seja música, folclore, natureza o que for, estarei indo a dois centros culturais maravilhosos, estarei matando a minha sede com coca-cola. Serei um verdadeiro turista. Estou levando uma bagagem imensa, com poucas roupas, pra que lá possa me encher de instrumentos, livros, mares, árvores, cores e olhos.

Não vejo a hora de revê-los.