Músicas de Raphael

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Cachoeira



(música linda)

Depois de mais ou menos 35 dias, voltei.

Mudado, esquecido, desacostumado e saudoso, eu voltei.

Não houve tempo suficiente para ver muitos, ou para ver aqueles que vi o tanto quanto gostaria de ter visto. Mas é sempre assim. Nadia finalmente conheceu os personagens das histórias que venho contando há mais de quatro anos. E eu, por um certo tempo, voltei a fazer parte delas.

Contemplar as cidades que contemplei, as paisagens, a música e as vidas que presenciei, tudo isso encheu o meu coração ainda mais com o que Ivan chamaria de ufanismo, mas que pra mim é simples afeição e emoção de quem viu e sabe que aqui fora não há nada igual. Pois por mais que eu analise, elabore e complique as explicações dos porquês, o fato é que por trás disso tudo existe um amor e uma ligação imensos dentro de mim, os restos de uma saudade infinita.


Obviamente, gosto é gosto, e tem gente que não importa quantos anos morasse no outro lado do mundo, não olharia o Brasil do jeito que eu olho. Afinal, como já devo ter escrito em algum post anterior, essa história de Brasil começou em Salvador, não aqui. Aqui eu só fiz cultivar.

Lembro que, dois dias antes de ir ao Brasil, fui a um show de Caetano Veloso lá em Copenhague. Sentei na segunda fileira, junto com meu amigo dinamarquês Niels, e várias senhoras brasileiras que não conhecia. Começamos a conversar e tal, e quando ouviram que eu era de Recife, chamaram uma senhora recifense que se sentava num outro lugar. Ao ouvir que eu ia visitar Recife, ela disse: "Boa sorte." O sarcasmo estampado em sua cara. E pelo que entendi, ela já mora por aqui há anos.

Não vou fugir da realidade, nem vou deixar de entender porque tanta gente quer sair do país, e porque tanta gente valoriza tanto o que é daqui de fora, pois eu fui e sou o mesmo que eles são. É fácil olhar através do vidro e sorrir, romantizando o que não se vive no dia-a-dia. Sei que o Brasil não se resume à música, à viagens de carros e pontos turísticos. Tem que andar pra poder conhecer. E em 2007 eu já tentei andar, voltar, já tentei ficar, e vi que não dá. Claro que, dentre as minhas razões encontra-se uma morena branca, dinamarquesa deusa dos meus sonhos, mas isso não esconde o fato de que é difícil gostar de nescau depois de provar toddy de verdade.

A verdade é que se eu pudesse viver do jeito que vivo em Roskilde no Brasil, com a liberdade que tenho (em todos os aspectos possíveis), já estaria lá (com Nadia, que inclusive tava aprendendo português muito rápido). Porque pra mim o Brasil é o que tem de melhor em cultura, paisagem, música e gente. 

Enfim, deu vontade de ficar, de prolongar, de voltar; e apesar de ao chegar em casa eu ter lembrado as outras razões pelas quais escolhi morar tão longe do meu país, ainda estou meio desordenado, mirando as lembranças que da parede adivinham meus pensamentos, fazendo perguntas sem interrogações. Mas não há nada novo aí e não há nada novo aqui. Vou me reacostumando de pouco em pouco, reencontrando meus amigos daqui, e curtindo a vida do jeito que curtia antes.

Feliz e satisfeito, porém cauteloso.

Sei que em breve vou subir ainda mais, e ficar ainda mais longe do meu país. Pelo menos Nadia e eu concordamos que daqui a um tempo queremos passar uns dois anos no Brasil. Vamos ver.

Assim segue a vida.

O sol da serra se pondo atrás de um cacto, as cachoeiras caindo em Bonito, a ilha dos Frades se aproximando, as ondas de Guarajuba nos derrubando, o Santos de Ganso jogando sob a chuva, e os meus pais me recebendo.