Músicas de Raphael

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Sonhos lúcidos, paralisias, e o cérebro mudo.

Há algumas semanas atrás, talvez mais de um mês, eu tive um sonho lúcido. Foi o segundo da minha vida (até onde eu lembre).

Está no wikipedia em português:

"Sonho lúcido - é o termo que refere-se à percepção consciente que temos de um determinado estado ou condição enquanto sonhamos, resultando em uma experiência da qual temos uma recordação muito claranítida, normalmente aparentando termos tido controle e capacidade direta sobre nossas ações e, algumas vezes, o próprio desenrolar do conteúdo do sonho. A experiência completa do início ao fim é chamada de sonho lúcido. Stephen LaBerge, um popular autor e pesquisador do assunto, definiu o sonho lúcido como "sonhando enquanto sabemos que estamos sonhando.


Por ser besta, eu nunca escrevi tudo que lembrava enquanto ele ainda estava claro na minha mente, mas ainda lembro uns detalhes. Lembro que estava no antigo apartamento da minha família, no edifício Baía de Toulouse, na Rua Venezuela, em Recife. Lembro que estava escuro, e que as luzes do apartamento estavam apagadas. E lembro do meu pai conversando comigo no sonho. Acho que tinha mais alguém, mas não estou certo se era Nadia ou alguma outra pessoa.

Eu estava na varanda, como costumava fazer na vida real, olhando a paisagem distante, uma mistura de prédios, serras, casas, árvores, e mar. O céu, como sempre, não tinha quase estrela alguma. Tinha um avião passando, e foi aí que percebi que estava sonhando. Eu me virei para a pessoa (não sei se era meu pai, Nadia, algum amigo), e disse "eu tô sonhando, isso aqui não é de verdade. Quer ver?"  E com a minha mão direita, apontei para o avião, fiz um movimento, como se estivesse puxando algo, e o fiz cair na nossa frente. Empolgado com a situação, vi que vários aviões, jatos, começaram a passar por perto, e comecei a derrubar mais deles, com "a força do pensamento".

O mais interessante de tudo, é que eu lembro que um ou dois deles, ao cair, não explodiram ou sequer se danificaram muito. Quicaram, de prédio em prédio, até alcançarem o chão.

Tenho certeza de que aconteceu mais depois disso, mas não é algo que eu consiga lembrar mais. Lembro que voei, mas não posso afirmar se foi nesse mesmo sonho, ou se talvez eu tenha tido sim um terceiro sonho lúcido do qual praticamente me esqueci.

De qualquer maneira, não estou 100% certo de que eu realmente sabia que estava no sonho, ou se sonhei que sabia que estava num certo sonho.

No caso do meu primeiro sonho lúcido, que ocorreu na minha infância, eu tenho certeza de que sabia. Queria ser pintor ou desenhista, ou pelo menos saber descrever as coisas melhor, pois algumas imagens desse sonho ainda estão bem claras na minha mente.

Ele foi diferente, porque eu não somente sabia que estava sonhando, como eu queria acordar, fugir daquela irrealidade. Não porque era um pesadelo, mas eu simplesmente não me sentia confortável sabendo que estava preso na minha própria imaginação. Lembro que estava num prédio que nunca vi em lugar algum, e nele estava havendo uma grande festa, com personagens peculiares. Lembro que alguns deles sabiam que eu sabia, e por isso tentavam me pegar pra evitar que eu escapasse. Ainda assim, eu não tinha a sensação de um pesadelo. Talvez porque dessa vez tudo estivesse claro, digo, era dia, o sol estava brilhando.

Uma das poucas coisas que lembro desse sonho foi eu tentando construir um portal para voltar pra realidade, no teto. Obviamente influenciado pelos muitos desenhos que eu assistia na época, o portal lembrava esses portais de tempo e espaço de ficção científica, sendo que não muito grande. Eu entrei pelo portal, mas não acordei. Lembro do sentimento de frustração. Depois disso, o sonho virou um meio-pesadelo. Me tornei um mini-eu, cabendo na palma de uma mão. E lembro de estar navegando num riacho, e sendo perseguido por Gargamel e o seu gato. Sim, o feiticeiro inimigo dos Smurfs! Pouco tempo depois, acordei.

São os dois únicos sonhos lúcidos que lembro. Um quando eu devia ter menos de 10 anos, e outro aos 23. Nesse hiato de 13 anos (se não contar o possível porém incerto terceiro sonho), a única coisa relativamente constante nas minhas noites foi e é a paralisia do sono.

A paralisia do sonho é a coisa mais assustadora pela qual já passei, mas que hoje em dia veio a se tornar algum mais ou menos normal na minha vida. Só de lembrar da primeira vez em que a experienciei, fico com medo. É difícil dizer exatamente quantos anos eu tinha, pois a minha infância no Edf. Venezuela tem a sensação de ter durado 20 anos. Mas sei que já morávamos no terceiro andar, no 304. Eu acordara no meio da noite, e não conseguia me mexer. Tentei chamar a minha mãe, tentei gritar, mas, no máximo, conseguia gemer. Foi quando olhei para o canto do meu quarto, e vi os olhos vermelhos, brilhando no escuro, olhando pra mim. Os olhos que, para o meu desespero, se aproximavam da minha cama, lentamente.
Felizmente, consegui me mexer, e saí correndo para o quarto dos meus pais, pra me meter no meio deles e ficar lá até o dia amanhecer.

Depois dessa primeira experiência, inúmeras foram as vezes nas quais tive que passar pela mesma situação novamente. Não que ocorressem todos os dias, mas geralmente ocorriam (e ocorrem) a cada um, dois, três meses.

Na maioria das vezes, eu não tenho alucinações hipnagógicas - mas sim, a simples paralisia em si. No começo, eu sempre me desesperava, tentava gritar, levantar os braços, era um horror. Com o passar do tempo, aprendi a lidar com aquilo: tentava relaxar, respirar fundo, esperar, pois sabia que logo, logo o resto do meu corpo acordaria. Acho que a última vez que isso aconteceu não faz muito tempo, pois já estava em Malmö(!). Lembro que já tinha amanhecido, quando eu abri meus olhos, vi Nadia, tentei me virar para abraçá-la, mas não consegui me mexer. Respirei fundo, e em poucos segundos consegui.

Mesmo hoje em dia, sempre rola uma rápida impaciência no começo, mas logo desisto de tentar, e espero.

Outras duas alucinações que lembro claramente também não são tão antigas. A primeira foi simples, porém assustadora, na qual eu acordara no nosso apartamento, em Roskilde, e vira ao meu lado um velho (ou velha?), com uma corcunda feia, e um sorriso apavorante. Fiquei aterrorisado, mas não conseguia me mexer. Só torcia pra que nada acontecesse. O velho tinha os olhos cerrados, uma roupa cinzenta e encardida, e apesar de não me ver, parecia estar lá para me observar. Finalmente, quando consegui me mexer, me virei  e abracei Nadia tão forte que ela acordou.

De manhã, vi que o velho era na verdade a cadeira ao lado da cama.

A segunda alucinação também foi em Roskilde, e já foi bem mais complexa - talvez a mais complexa que já tive. Lembro que acordei, ou pensei acordar, no nosso minúsculo apartamento, no qual o quarto, a sala, e a cozinha são um só. E no canto, onde o violão ficava, eu vi um menininho branco, pequeno, de cabelos pretos e curtos, shorts escuros, e uma camisa branca (ou era um macacão?). Bem, eu não conseguia ver o seu rosto, mas ele parecia se mexer freneticamente. Depois disso, acordei, e logo estava na pia, lavando a louça. Apesar de ser dia, as cortinas estavam fechadas, e as luzes estavam acesas. De repente, eu ouvi algo. Era o menino de novo. Olhei pra trás e vi o seu vulto passar correndo. Eu o segui até o banheiro (que não era longe), e quando entrei o vi em pé sobre a privada, seu rosto ainda embaçado, suas ações sem fazer sentido algum. Fiquei paralisado com aquilo, aterrorisado, fechei a porta do banheiro, e voltei correndo para a sala/quarto/cozinha, onde, estranhamento, acordei de novo. Foi a única vez (que eu me lembre claramente) que sonhei dentro de um sonho. Ou será que tive a paralisia, acordei, voltei a dormir, e sonhei com a alucinação que acabara de ter. Ou será que sonhei que tive a paralisia? Seja o que for, também fico com medo só de lembrar.



Eu me vejo como uma pessoa ansiosa, e acho que isso seja um grande fator para a tal paralisia. Também li que outra possível causa é mudança de ambiente, que de alguns anos pra cá vem sendo algo normal na minha vida, mas não quando eu era um pirralho...
Também cheguei a me perguntar se sofro de narcolepsia - não porque ache que seja preguiçoso ou excessivamente sonolento, mas poucas são as vezes nas quais me sinto completamente descansado, sempre durmo e acordo em horas diferentes, e às vezes tenho problemas em me concentrar. Contudo, isso é muito subjetivo e muita gente é assim, fora que não sei nada sobre narcolepsia.


E o cérebro mudo, os sonhos sem som? É o mais abstrato, mais difícil de explicar.

Até certa idade (na adolescência), meus sonhos eram como filmes: eles tinham uma sensação mais real, na qual eu podia realmente ouvir um carro passando, em todas as suas freqüências, e pessoas falando, chorando, enfim, tudo que acontece em sonhos, da maneira mais real possível. Claro, você diz, é assim que todo mundo sonha.
Porém, de um tempo pra cá, meus sonhos perderam um pouco, ou talvez muito, disso. Eu ainda vejo e ouço tudo, mas as coisas parecem ir mais rápidas, confusas, e o mais estranho, sem som.

Quando converso nos meus sonhos, a pessoa que está falando comigo não está realmente falando: é como se eu pudesse ouvir meus pensamentos projetando o que ela fala. É como se, de certa forma, eu estivesse pensando meus sonhos, ao invés de sonhá-los. Não que isso faça com que todo sonho que eu tenha seja lúcido, ou que ele seja chato, sem graça; mas os sons parecem não ser tão fortes e reais como antes. O mais paradoxo nisso, é que nesses sonhos eu já ouvi melodias. Lembro de estar sentado na grande quadra do Colégio Americano Batista com meus amigos (que aindam eram crianças nesse sonho), junto com um um montão de crianças que estavam correndo, brincando, e de começar a cantar uma melodia que eu julgava ser de Milton Nascimento. Acordei, toquei a melodia no violão, e a tenho até hoje. (O legal é que não consegui achá-la em disco algum do Milton, então ela é provavelmente minha, ou melhor, uma mistura daquilo que ouço e que meu próprio sonho mudo criou.)

É difícil explicar como posso ouvir melodias nesses sonhos pensados, mas acontece. Fico com a impressão/teoria de que não durma tão profundamente como costumava dormir, então apesar de sonhar, acreditar, e experienciar coisas que parecem verdadeiras, ao mesmo elas não são. É um sonho sem sons!

Pelo menos eu nunca saí do meu corpo. Uma vez sonhei que tinha morrido, e saído do meu corpo. Flutuei pelo "apartamento" onde Tia Marly morava na minha infância, no fundo da Igreja Batista Emanuel, e pronto. Mas não foi nada do tipo "eu realmente saí do meu corpo, olhei pra mim mesmo" e tal. Foi dentro do sonho. Por sinal, esse foi o único sonho que lembro no qual continuei sonhando depois de ter morrido. Todas as outras vezes, eu acordei, como na vez que fui espancado por imigrantes na Dinamarca, tentei abrir os olhos, ficar vivo, mas morri.. e acordei.

Bem, eu poderia citar milhares de curiosidades nos meus sonhos. Todas bem comuns, como eu perdendo os dentes (sempre!), ou da onda gigantesca que surge na praia, da qual sempre tento fugir, às vezes criando um sonho bem longo, no qual a cidade inteira se alaga...



O fato é que, muitas vezes, eu tenho tantos sonhos, que acordo cansado, como se não tivesse realmente dormido.
Um dos meus maiores planos para o nosso próximo apartamento é comprar uma cama maravilhosa, com travesseiros maravilhosos, para eu dormir perfeitamente.


Sei que o Pr. Josias é muito interessado em sonhos. Tô pensando em seguir o exemplo dele, e guardar um diário no qual eu escreva os meus.





Obs. resolvi escrever esse post depois de reassistir A Origem